TEXTO e REFLEXÃO – Qual é sua MORADA

“Seja qual for sua morada, você pode transformá-la num lugar de paz”.

                                                                                          Amara Antara¹. 


Quando ainda era adolescente, papai chegou em casa com dois quadros cuja pintura estava ainda fresca, literalmente fresca. Lembro-me do cuidado para colocá-los na parede da sala; ambos eram verdadeiramente perfeitos, uma verdadeira arte vendida a meu pai. O primeiro lembra uma cidade histórica como Ouro Preto em Minas Gerais ou a própria Sabará, cidade onde cresci. Porém, o segundo quadro era uma mensagem materializada em cada cor escolhida, cada pincelada.

Quando chegou, apesar de simples a moldura, acredite, não era nenhuma obra de Pablo Picasso (1881 – 1973), mas, o seu autor conseguiu externar, dar vida à obra de forma que todas as vezes que contemplava aquela pintura e lia a frase escrita, a mensagem se materializava para o dia a dia. Havia nele uma “montanha” com plantas do cerrado e aos pés do monte uma casa colonial de madeira, com uma porta e janela, fechadas, que trazia a aparência de um lugar isolado e muito frio. Suas gramas ao redor da casa e a cor do dia era como se pudesse sentir o vento gelado das montanhas. Mais adiante um rio estreito de águas claras, o terreno protegido por cercas de madeira marrom, mostrava a porteira semiaberta que dava acesso à estrada de terra, trazendo a ideia de mais ou menos vinte metros passando pelo pontilhão do riacho para chegar até a casa. Nos arredores existiam alguns animais pastando, tudo impressionante, produziu um clima aconchegante, romântico e sobre tudo simples. No entanto, a frase escrita no quadro sobre a pintura se transformou em lema de vida, pois era exatamente o que aquela pintura traduzia, sossego, quietude e paz. 


 “Seja qual for sua morada, você pode transformá-la num lugar de paz”.


Em dias de tormentas não esqueça essa mensagem. Desde o dia em que a li, minha morada não foi somente a casa habitualmente conhecida, minha morada se tornou: “seja qual for”. Na escola, posteriormente no trabalho e principalmente dentro de mim, sim, existe uma morada no ser humano que tende a se conturbar, com grandes entraves resultando em guerras épicas em seu interior. Sejam dilemas, temores noturnos, incertezas, desconfianças, decepções, etc. Uma infinidade de embates que as muitas vozes não permitem chegar a um veredito satisfatório, obtendo muitas vezes, um apontamento para o nada. Todas as vezes que não se tem um objetivo definido sobre algo concreto, não haverá paz; independente de quão lindo seja o lugar de sua morada.
  
Você já viu alguém que de tantas lutas internas, geralmente se vê com falta de animosidade para realizar certas coisas e outras até dizerem que gostariam de se esconderem em uma caverna? Ou já acordou assim? –  Diante dos embates diários, é normal querer a paz, desejar o fim das lutas e sonhar com um mundo perfeito. Mas, o mundo não é sentido pela ausência de luta, muito pelo contrário, as lutas dão sentido ao mundo idealizado. No entanto, qualquer coisa com ou sem a exata medida é o que determinará se o que se produz é o remédio ou veneno na rotina diária. O peso sentido pelo desequilíbrio é resultante da delonga acentuada, que produz ansiedade e angústia. O cansaço na vida, leva muitas pessoas quererem refúgio e sentir vontade de estar numa caverna.  

Segundo o dicionário, caverna é uma cavidade profunda e extensa aberta em rocha. Também se assemelha à palavra depressão que pode significar cavidade pouco profunda. É esse o quadro de quem quer esconder ou viver numa caverna, existe uma dor, um sentimento profundo, uma falta de paz profunda, que está a levando  para uma inexistência. Esconder é uma das formas de demonstrar a condição psicológica em que se está; sempre que o corpo se vê ameaçado, ele tende a querer repousar, descansar, dormir, se esconder. Deprimir-se é o mecanismo do desespero, deprimir-se é o pesar. Andrew Solomon, em seu livro intitulado “Demônio do Meio Dia”, diz que a depressão não é apenas muito sofrimento; mas sofrimento demais pode virar depressão.

O PESAR, segundo o dicionário, significa sentimento de tristeza, comiseração, pena ou ainda, sensação de mágoa ou de remorso. Pesar é a depressão proporcional à circunstância; porém, a depressão é um pesar desproporcional. Com efeito, quando alguém se isola achando que nessa atitude está a solução, não é isso que acontece. O isolamento depressivo embrutece, “destrói a capacidade do indivíduo de dar ou receber afeição”. O isolamento é a solidão que se manifesta destruindo não apenas a relação com o outro, mas, a capacidade ou a chance de “estar em paz consigo mesmo”. Interagir, continuar o caminho e enfrentar, procurar amar o que se faz ou fazer o que se ama, ter uma causa pela qual se descobriu ser capaz de doar-se. Em meio às tribulações internas, faça de seu interior um lugar de paz. E então simplifique. Essa é a dica: simplifique.

Talvez a autora da frase inicial te diria, simplifique. Por fim, diz Sertillanges  (1863-1948): […] “temos uma viagem difícil pela frente, não se sobrecarregue com muita bagagem”. É certo que jamais terá um domínio pleno de sua vida, e então, pensa em você […].

¹A frase utilizada é atribuída a  Amara Antara, segundo fontes da internet.

@welllivros

 

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