Existem males que nós mesmos nos causamos, você já observou? Costumamos dizer que sabemos o que é melhor para nós. Frases como: “eu sei cuidar de mim”, “já sou bem grande”, “sei o que estou fazendo”, são muito comuns de ouvir, seja ao som da boca de alguém ou das vozes em nossa mente. Em nossa mente há sempre um debate acontecendo. Algumas ideias perceptíveis e muitas outras chegam e vão embora tão rápido que muitas vezes nem é possível perceber. Já ocorreu com você de ter certeza que a escolha a fazer é a melhor, a mais acertada, e, de repente se encontra totalmente equivocado diante da escolha? Bate aquele arrependimento não é mesmo! É como se a consciência tivesse saído durante o cometimento do ato e voltado logo após a coisa concretizada.
Não é necessário ser criança para cometer erros na vida. Na verdade parece que adultos são mais propícios a cometer tais atitudes. Quando se é criança, estamos sujeitos a vigilância, ao controle quase que absoluto de um adulto, porém, já na fase adulta julgamos não ser mais necessário esse controle. Em determinadas situações temos dificuldades para ouvir a opinião dos demais, escutar e atender a um bom conselho e estranhamente percebemos que uma característica muito comum de algumas crianças ou a maioria delas, praticamos constantemente – não seguir algumas regras e princípios.
A percepção comportamental que tenho do século XXI é que cada vez mais há um movimento na tentativa de desconstruir a palavra “regra” no sentido de controle, para muitos pode parecer até ofensiva – não sei, pode ser apenas uma percepção – na verdade, no fundo, no fundo não gostamos, mas reconhecemos que são extremamente necessário para as relações humanas, definir as regras.
Às vezes não seguimos direcionamentos, por não ter o conhecimento ou não acreditarmos neles, mas, existem ainda aquelas atitudes, que “Eu tomo” (destaque para o eu) crendo que é a decisão certa. Ainda àquelas que quero incorrer mesmo sabendo que pode dar errado, embora não queremos que dê, no entanto, os cálculos não são precisos devido ao impulso despertado, as decisões são afobadas, movidas pela emoção, pela ansiedade de não esperar o tempo ou momento necessário para, até mesmo se necessário for, abandonar a ideia. É importante sempre avaliar os efeitos colaterais sobre toda e qualquer decisão, tais efeitos podem ser decorrentes da incapacidade de dizer “não”- seja ao outro, às circunstâncias, aos desejos e, não, a mim mesmo.
A Psicanálise freudiana observa que na maioria das vezes desconhecemos grande parte das coisas que ocorrem na nossa mente. Quer dizer que geralmente não percebemos o que estamos pensando e muito menos por que estamos fazendo aquilo que fazemos, seria talvez um automatismo. Oferecemos muitas vezes justificativas plausíveis para escolher determinado parceiro, emprego ou casa, mas para Freud, não nos aprofundamos de fato no assunto. Entendo que sempre há pensamentos que foram pensados a respeito do objeto, que nem percebemos que pensamos.
Freud examina que existem conversas em nossa mente, diálogos frequentes entre três elementos que ele chama de Id, Ego e Superego. Para o médico considerado o pai da Psicanálise, o Id é a mente com que nascemos. É agitada, cheia de vontades, quer comer, beber, urinar, defecar e manter-se aquecida, quer porque quer; sua única meta é satisfazer todos os seus desejos. Como exemplo, cita um bebê fazendo manha aos gritos. O Id quer o prazer e quer agora. O Id é rígido. Nesse sentido, para Freud, crescendo o bebê começa a perceber que não consegue mais satisfazer todos os seus desejos e a realidade já o atrapalha. É quando o outro participante da conversa dentro da mente, aparece – o Ego.
O Ego, são as circunstâncias do mundo externo, avalia quando e como as necessidades do Id podem ser satisfeitas ou se precisam ser ignoradas. Leva em conta as imposições da realidade, além de prestar a atenção a terceira parte da mente da criança – o Superego que surge por último. No entanto, o Superego é a parte da mente que internaliza as “regras” do mundo, conforme transmitidas na infância, primeiro pelos pais e, mais tarde, por outros membros da sociedade, como professores ou autoridades.
Exemplificando o que Freud diz:
O Id diz: “eu quero fazer isso”. Diz o Superego: “não é certo fazer isso”. O ego intervém: “Talvez possamos chegar a um acordo”.
Segundo Freud é assim que funciona em nossa mente. Observou que às vezes temos consciência desses conflitos internos, mas, na maioria das vezes, não – esse é um processo inconsciente, alguns desejos que afloram do Id são tão inaceitáveis que nos livramos deles imediatamente, em geral para fingir que jamais chegamos a tê-los. Criamos mecanismos de defesa brilhantes cujo objetivo é banir alguns dos nossos pensamentos para evitar a ansiedade excessiva gerada por nossos impulsos.
Diante do mal que eu mesmo causo a mim, o conflito entre o Id, Superego e Ego fica tão acirrado que acabamos por ouvir a voz errada. O Id é impulsivo e inconsequente, aflora o “quer”, prazerosamente por querer. Acontece que, existem coisas que o Id nos levaria fazer que agradecemos imensamente ao Ego e ao Superego por criticá-lo e, levar a nossa mente a abandonar aquela ideia.
O Superego se preocupa com os efeitos colaterais. O mal que causo a mim pode ser resultante da falta do Superego que anda com o manual embaixo do braço – como se diz, mas também poderá ser a ignorância do Id que os sobrepõem, e assim faço o que quero e “ninguém tem nada haver com isso, “a vida é minha”, “no mundo só existe eu e importa mais ninguém – quero aquilo”; “ninguém manda em mim”, “não importa as consequências de minhas ações”. O Id pode ser também cínico e astuto: “isso é errado mas não vai dá nada pra mim”. O adulto, que se depara com seu Id aflorado e cede a tais vontades é como uma criança pirracenta, só, que elevada sexta potência. As consequências de seus atos também são proporcionais.
Por fim, não é que o Id não seja importante, ele tem um papel fundamental, é responsável por levantar as principais questões a serem debatidas. No entanto, já na mesa do pensamento, sobre qualquer assunto em pauta na nossa mente, é necessário a ideia, mas também a crítica dela (Superego) para que se ouça a razão e obtenha como resultado uma postura equilibrada (intervenção do Ego).
Para evitar erros e exageros, seja para o bem ou para o mal, para o errado ou para o correto, é necessário acontecer sempre nas tomadas de decisões o diálogo entre o Id, Ego e Superego, onde não será possível agir observando somente um lado. O Ego crítica, elogia, considera, sugere sua própria ideia, não se omite – modera; coloca as ações da forma a satisfazer a todos, quando possível, não se encanta com os prazeres, mas, trabalha e se alegra para que os efeitos das ações atinjam o resultado que se espera obter.
Felicidades!
Wellerson Baptista
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