Para Wolfhart Pannenberg (1928 – 2014) a palavra teologia tem muitos significados. Nos dias atuais pode ser entendida como uma disciplina acadêmica, um esforço humano para aquisição do conhecimento. No conceito platônico a palavra significa logos que noticia a divindade. Platão aplica esse conceito aos mitos interpretando-os à luz crítica da filosofia e considera seu valor para a educação política.
Foi Sócrates quem chamou uma das três disciplinas da filosofia teórica, de “teologia”, posteriormente chamada “metafísica”por Aristóteles que teria o divino como princípio de todo o ente; que abrange e fundamenta a todo o mais”. Foi Aristóteles ainda, que chamou pensadores como Hesíodo e Homero de “teólogos” por conhecê-los como criadores dos mitos reproduzindo narrativas dos feitos dos deuses e heróis, suas origens, suas virtudes, como também os vícios e os erros destes.
Como estudo metafísico do ente (pode ser entendido de forma simples, relacionado a tudo que existe) não deixa de considerar a metafísica ou “filosofia primeira”, como a mais elevada de todas as ciências. Posteriormente os estóicos fizeram a distinção da Teologia dos filósofos adequada a natureza da divindade, da teologia mítica dos poetas e da teologia política dos cultos estatais. Momento em que o termo “teologia passa a não ser mais somente objeto de análise filosófica (o que era em Sócrates) e sim, passa a ser ela mesma” – afirma Pannenberg.
Um conceito secular muito usado para a teologia traz a ideia de que é o estudo crítico da natureza dos deuses, seres divinos ou de Deus com seus próprios atributos e sua relação com os homens e diversas religiões. Nesse sentido, de forma ampla tende a se aplicar a qualquer religião. Geralmente, o termo é identificado dentro dos limites do Cristianismo.
Um Conceito
A incorporação do termo “teologia” pelo Cristianismo começa a ser usado na Idade Média, entre os séculos IV e V, compreendida como significado de conhecimento e saber cristão acerca de Deus. O teólogo é o proclamador da verdade divina inspirado por Deus, e, a teologia é a proclamação. Nesse sentido, os autores bíblicos puderam ser chamados em conjunto, de teólogos. A deferência serve para os profetas veterotestamentários como para os novos testamentários, sendo este o caso do evangelista João, chamado de “teólogo da deidade de Jesus”.
A teologia não é concebida apenas como um produto da atividade humana, mas, significa a notícia própria de Deus (logos) divino e revelada por Ele ao homem. Concedida pelo próprio Deus, ela se torna acessível somente como contemplação da verdade divina por meio de inspiração reveladora. Em Pannenberg ao ler essas verdades é possível perceber que uma teologia sem a ação do Espírito Santo é como o sal insípido.
A frase central para o teólogo é – inspiração divina – sem a qual a teologia torna-se subproduto de uma atividade natural e inexpressiva. Esta inspiração divina não é impedimento para que a teologia seja também ligada a arte de uma “verdadeira dialética” no conceito de Platão; contudo, por meio da força do discernimento, deve-se conduzir à verdadeira verdade, e que assim seja uma ciência.
“Não se pode imaginar o conhecimento de Deus e uma teologia, tanto fora quanto dentro da igreja cristã, também no chamado conhecimento natural de Deus, que não participasse do próprio Deus e que não se sujeita à ação do seu Espírito. Significa dizer que, se Deus é o seu próprio objeto, então é evidente que esse objeto só pode ser conhecido se Ele se dá a conhecer por si mesmo.
Por fim, é possível perceber em Pannenberg que no conceito de teologia cristã sempre já se pressupõem a verdade do discurso teológico como um discurso fundamentado autorizado pelo próprio Deus. Desse modo, se esse discurso acerca de Deus for fundamentado a partir do ser humano, a partir de necessidades e interesses e como expressão de concepções humanas de uma realidade divina, não seria teologia, e sim, somente produto da força imaginativa humana. Desta forma, é pertinente a sugestiva indagação do teólogo: – a teologia com razão esta fala acerca de Deus e com que direito fala? – Isso deve ser pensado e refletido, pois, a teologia cristã não se trata de uma mera disciplina científico-cultural, ela é a expressão de uma realidade Divina. Pannenberg (Vol., p. 33).
Para ele, a teologia não pode ser ciência, no sentido moderno da física-matemática, mas sim como ciência humana ou do espírito. E é tão rigorosa e exigente em seu método como as ciências naturais. Deus, objeto do discurso teológico, é “a realidade que determina tudo” e nenhuma ciência pode ficar indiferente a essa “chave do real e do ser”.
Sobre o Teólogo
Wolfhart Pannenberg, o brilhante teólogo protestante alemão, nascido em Stettin, hoje Polônia, consagrou-se como professor de teologia nas Universidades de Wuppertal (1958-1961), Mainz (1961-1967) e a partir desse ano em Munique até sua aposentadoria em 1994. Foi professor visitante nas universidades de Harvard, Chicago e Claremont. Em Munique, ele fundou o Instituto de Teologia Fundamental e Ecumenismo para promover o diálogo com a teologia católica. Faleceu no dia 4 de Setembro, na Baviera, aos 85 anos.
Estudou filosofia em Berlim e Göttingen (Alemanha). Em Basel (Suíça) estudou com Karl Barth e Karl Jaspers. Professor de Teologia Sistemática em Wuppertal, Mainz e Munique, se tornou conhecido pela oposição à desmitologização de Bultmann, seu professor, afirmando que a revelação e a história são categorias teológicas significativas e que a ressurreição de Jesus é o eixo em torno do qual o cristianismo gira.
Foi anfitrião do Círculo de Teologia de Heidelberg, orientado para o estudo de problemas históricos, porque “a compreensão da revelação que se parece contrária ao conhecimento natural suscita o perigo de confundir a revelação histórica com um tipo de sabedoria oculta, um misterioso gnosticismo, que tem promovido quedas no pensamento religioso moderno”.
Pannenberg se distanciou da tradição fideísta luterana pela importância que esta concede ao lugar da razão na teologia, contra teólogos como Paul Althaus. A posição da razão na teologia faz com que esta seja vista como uma ciência, recuperando assim a grande tradição da Idade Média, que julgava natural que a teologia fosse a ciência por excelência.
Entre os muitos livros de Pannenberg estão Teologia e Reino de Deus; Fundamentos de Cristologia; A fé dos apóstolos; Questões fundamentais de Teologia Sistemática; Teoria da Ciência e da Teologia; Ética e Eclesiologia; Teologia Sistemática I-II, III; Antropologia em Perspectiva Teológica; O homem como problema e O destino do homem.