Me disseram recentemente que se hoje cheguei onde estou profissionalmente é porque nasci com privilégios que a maioria não teve.
Discordei veementemente. O meu privilégio foi não nascer com doenças limitadoras, de fato. Perguntei à pessoa: você cresceu em uma família de 5 irmãos? Sua mãe foi faxineira e seu pai já te deu farinha de mandioca com açúcar, fubá suado, inhame roxo para completar o alimento de casa? Não, ela disse. Continuei – Você precisou tomar chá de folha de abacate porque não tinha pó de café? Já precisou andar a pé 7 km para estudar? Você morou em uma cidade onde havia discoteca para brancos e outra para negros? Você é preta? E por fim, perdeu sua mãe aos 13 anos de idade? Para todas essas perguntas disse não. Respondi – então não diga que cresci de forma privilegiada.
A diferença entre o fato de eu recentemente ter completado 27 de um bom concurso público, na verdade (não o concurso dos sonhos de muitos, mas do meu sonho), está no que fiz na juventude. Lembro-me dos meus 16, 17 e 18 anos, como servente de pedreiro para ter meu dinheiro e terminar meus estudos, meus amigos aos finais de semana iam para a discoteca (danceteria); eu por várias tardes e noites de finais de semana estudava, solitário, “um bobo” – era como me achavam.
Ainda hoje, diversas pessoas invejam o sucesso dos outros, mas não querem pagar o preço que os outros pagaram/pagam e, se vitimizando chamam suas frustrações e derrotas de falta de oportunidade. Só pode dizer que teve falta de oportunidade aquela pessoa que sentou exaustivamente numa cadeira, se debruçou sobre os livros, perdeu noites de sono, perdeu “amigos”, namoradas, festas, lutou, persistiu nos estudos e, ao final, não conquistou nada. Você conhece alguém assim? Que lutou de fato, cortou na carne e não venceu, não conquistou pelo menos algo próximo do sonho? Eu não conheço.
Muitos dos que se vitimizam não passaram nem pela metade do que passei. Também nasci em comunidade pobre, cresci num ambiente que até aos 16 anos não havia luz elétrica – era lamparina e a água sem tratamento que, era buscada a 3 km ou mais na bica. Me disseram que atualmente eu não preciso estudar mais. É bem verdade, para quem não têm sede do conhecimento, para quem vive estagnado e em círculos, aceita a mediocridade, então, estudar aos 45 anos depois de uma carreira profissional não faz sentido. Acontece que para mim, faz todo. É bem verdade, com muito esforço e a bondade de Deus, já tenho Curso Superior, algumas especializações e ainda cursando um outro Curso Superior. Cinco anos nada fáceis.
Às vezes, às 3 horas da manhã de sexta para sábado ou de um sábado para o domingo, ainda estudo como fazia 27 anos atrás, escuto um sons e pessoas cantando num bar de madrugada (todo o final de semana a mesma coisa). Se eu chamá-las a fazer o que faço, vão certamente preferir a cerveja. Devem já ter completado a carreira, quem sabe ainda chego lá – penso eu! Só que não. O caminho rumo a vitória é árduo e solitário. A diferença entre o vencedor (viver o sonho) e o derrotado, está na decisão do tamanho do sacrifício a pagar.