Durante muito tempo frequentei a escola bíblica dominical – termo comumente utilizado na maioria das igrejas evangélicas para denominar um momento separado ao estudo da Bíblia aos membros. Um lugar destinado a quem quer crescer espiritualmente, desde bem cedo.
A escola dominical é uma das instituições mais úteis, benéficas e duradouras da história do protestantismo. Muitas igrejas dão ênfase aos seminários teológicos, formação de líderes e pouco incentivam os membros, a grande massa, a investir em estudos na escola bíblica dominical. Porém, ela deve está inserida num grau de elevada importância, se essa igreja se considera séria e, realmente na prática, não deseja que seus membros sejam levados por qualquer vento de doutrina.
Gerar membros conhecedores da bíblia e críticos, não significa uma igreja fraca e insubmissa, muito pelo contrário, esse membro é frutífero, dizimista, fiel à igreja e ao evangelho, pois entende perfeitamente o plano da salvação, o que a bíblia é com sua história, sua revelação e seus princípios. Esse crente se perpetua na igreja, pois suas bases não estão firmadas no líder A ou B ou apenas nas pregações de domingo.
A escola bíblica contribui para uma igreja Bíblica em qualquer lugar que essa seja requerida, e, para tal, ela não precisa adotar apenas um modelo ou metodologia de ensino. Incentive o debate, use e abuse da tecnologia, saia do trono (púlpito), faça roda, venha para o meio dos alunos, sempre que possível. Capacite seus professores, envolva a igreja, etc; etc. A escola dominical é o principal meio de instrução na vida da igreja, gera grandes benefícios como, evangelização, plantação de igrejas, cultura bíblica e teológica, edificação na fé, oportunidades de serviço cristão. A escola bíblica é comum a todos “e de graça” (nesse ponto, há controvérsia, discutiremos em outro momento).
Segundo o site da Igreja Presbiteriana de Pinheiros, os temas mais comuns em desfavor da escola bíblica dominical são:
– Os temas tratados não despertam interesse: ficam restritos ao estudo da Escritura, não se procurando aplicá-la às necessidades de hoje; muitas vezes tais temas são repetitivos e cansativos.
– Os professores por vezes não são qualificados: não têm condições de responder os questionamentos mais difíceis dos alunos, principalmente jovens universitários e outras pessoas instruídas e questionadoras.
– Os métodos didáticos são antiquados, privilegiando-se o formato da preleção pelo professor: há pouco diálogo e envolvimento dos alunos.
– São utilizados poucos recursos audiovisuais, principalmente aqueles fornecidos pelas novas tecnologias.
– A igreja tem atividades em excesso; há duplicidade de atividades (por exemplo, os jovens têm a sua classe de Escola Dominical e também as reuniões da mocidade). (https://www.ippinheiros.org.br/blog/)
A HISTÓRIA DA E.B.D
Com suas nuances, a reunião para estudar a palavra de Deus ensinando-a aos crentes da comunidade, Escola Bíblica Dominical-EBD, tem sua história. Seu início está estabelecido no século XVIII, tempo de grande avivamento na Inglaterra, tendo como um dos seus propulsores o jornalista inglês Robert Raikes. É nesse período de grande avivamento evangélico que simultaneamente acontecem importantes movimentos sociais como, a reforma das prisões, luta contra o trabalho infantil, campanha contra o tráfico de escravos, ênfase na educação e o marco das missões mundiais.
Dentre os principais líderes estão: John Wesley, Charles Wesley, George Whitefield e John Newton, entre outros. O jornalista Robert Raikes (1735-1811), iniciou uma escola em sua paróquia, ensinando crianças pobres de 6 a 14 anos a ler e escrever e dava-lhes instrução bíblica. Essa atitude se espalhou pela Inglaterra e, cinco anos mais tarde, foi organizada em Londres uma sociedade voltada para a criação de escolas dominicais. Um ano depois, cerca de 200.000 crianças estavam sendo ensinadas em toda a Inglaterra. Da Inglaterra esse modelo se alastrou para o País de Gales, Escócia, Irlanda e Estados Unidos.
“No fim do século XVIII, quando ocorreu a independência dos Estados Unidos, muitas crianças, especialmente pobres, não tinham acesso à educação. As escolas dominicais vieram suprir essa carência, além de unir o ensino religioso ao ensino geral”. Assim, nos Estados Unidos foram criadas várias escolas, em diversas igrejas pelo país, como em Boston, Nova York, Filadélfia, Rhode Island e Nova Jersey. Essas escolas dominicais prepararam o caminho para a criação de escolas públicas. A partir de 1800, os propósitos das escolas dominicais americanas passaram a ser instrução e evangelismo; elas transmitiam valores cristãos e o espírito democrático da nova nação.
ESCOLA BÍBLICA NO BRASIL
No Brasil, a E.B.D. chegou com as primeiras missões protestantes. A primeira escola dominical permanente, segundo registros, foi fundada pelo casal Robert e Sarah Kalley em Petrópolis, no dia 19 de agosto de 1855. Sarah Kalley havia sido grande entusiasta desse movimento na Inglaterra, de onde era natural. O fenômeno foi ganhando notoriedade aqui no país, a partir de alguns movimentos que como a 11ª Convenção Mundial de Escolas Dominicais, que envolveu representantes de 33 países no Rio de Janeiro, em julho de 1932; o surgimento de periódicos de educação religiosa, que foram responsáveis pela publicação de revistas voltadas para a escola dominical.
Assim, destaca-se que o ensino nas escolas bíblicas é apenas mais uma das muitas estratégias que podem ser utilizadas para alcançar e consolidar do ensino bíblico religioso no país e nas igrejas. Para o bom desempenho dessa missão, é indispensável, ainda, o contato pessoal do professor ou dirigente da escola com o aluno; a atmosfera espiritual que deve permear as atividades; a boa amizade do aluno com seus colegas; o ensino qualificado das lições bíblicas; o interesse da igreja na conscientização de cada membro quanto a importância desse ministério-instrumento para a vida cristã.
Por fim, reforça-se o aspecto finalístico e abrangente da Escola Bíblica Dominical, que não se destaca pela pregação de doutrina, mas, pela exposição fiel da Bíblia, a fim levar os alunos a conhecê-la na simplicidade e objetividade naquilo que ela expressa. Desse modo, é possível proporcionar a formação de hábitos legítimos e cristãos nas práticas dos deveres sociais e bíblicos, os quais resultam na consolidação de um caráter cristão segundo os preceitos de uma verdadeira Igreja Evangélica bíblica; que consequentemente resulta naquela que educa, instrui e se estabelece.
Que Deus abençoe!
Referências:
Leia um texto complementar no link abaixo: https://comunhao.com.br/escola-biblica-em-crise-2/
Marchiore, Rogério Lacerda. Revista Ensaios Teológicos, 2016. Os desafios da educação cristã na escola bíblica dominical do século 21.
Congresso Nacional de Educação -III CODENU. Escola Bíblica Dominical: Um espaço de educação formal ou não formal. Luciano Bezerra de Vasconcelos Jr (1); Cecília Dirce de Paula Oliveira Melo (2); Daniela Lourenço Freire Souza (3); Matheus Gomes de Santana (4); Dayse Rodrigues de Oliveira (5).