Provavelmente já sentiu uma angústia do nada, um verdadeiro vazio, um estado de agonia e tédio, em algum momento de sua vida, a princípio, sem motivo aparente. Esse estado de condição existencial, foi bastante observado durante o século XX. Para Viktor Frankl (1905 – 1997), “o ser humano precisa fazer opções diante das inevitáveis perdas sofridas ao longo da sua história”.
Explica que nesse sentido, as tradições servem de apoio para o comportamento humano, agindo como pilar que ao longo do tempo diminui, gerando um enfraquecimento de certas estruturas. Em caso da perda, a pessoa poderá agir por instinto e nenhum instinto diz o que se deve fazer. Significa que aconteceu um enfraquecimento das estruturas que o norteia e, devido a este enfraquecimento a pessoa como indivíduo se depara no centro de uma vida ou momento angústia e vazio, um verdadeiro dilema por não saber o que fazer. Diria: “não sei porque estou assim!!!” É um momento de extremo significado e que exige atenção.
Frankl afirma que diante desse quadro de não saber o que deseja fazer, por não haver o instinto e nem mesmo a tradição, aquilo que dá sentido à vida está enfraquecido; como forma de dar sentido à vida a pessoa desenvolve um desejo de querer fazer o que os outros fazem, é uma espécie de conformismo, podendo também adotar outra atitude que seria o agir e/ou passar a fazer o que outras pessoas querem que ele(a) faça, momento que se submete a uma espécie de totalitarismo.
O problema do vazio existencial tem causado alerta à psiquiatria e à psicologia. Em seu livro “Em busca de sentido”, Frankl desenvolve uma pesquisa que o leva a constatar por meios de dados estatísticos com seus alunos europeus, que 25% mostravam um grau mais ou menos acentuado de vazio existencial. Entre os seus alunos norte-americanos, a porcentagem “não era de 25%, mas de 60%”, afirma o autor.
Outro fenômeno observado é o que chama de “neurose dominical” -uma espécie de depressão ocorrida àquelas pessoas que sentem falta de conteúdo em suas vidas quando passa o corre-corre da semana atarefada. O vazio interior se torna manifesto. Afirma: “não são poucos os casos de suicídio que podem ser atribuídos à esse vazio existencial”. Fenômenos tão difundidos como a depressão, agressão e vício, não podem ser entendidos se não considerado o vazio existencial implicado a eles. O mesmo é válido também para a crise de aposentados e idosos (Frankl, 2020).
O vazio existencial tem suas facetas. Às vezes transparece por diversas máscaras, em muitos casos advindos de frustrações e da necessidade de compensar a falta de sentido com vontades como: de poder, ou, até mesmo vontade pelo prazer, etc. Neste último, a frustração existencial leva a compensação sexual, onde o libido sexual assume “proporções descabidas no vazio existencial”, em busca de sentido na vida.
O alimento do vazio existencial é exatamente a falta de sentido na vida. Procura responder, portanto, encontrar qual é o seu propósito e qual o verdadeiro sentido que há em você, e seja autossuficiente, cheio e completo na vida. Pense nessa responsabilidade da ênfase logoterapêutica apresentada no livro:
“Viva como se tivesse vivendo pela segunda vez, e como se na primeira vez você tivesse agido tão errado como está prestes a agir agora”.
Este preceito tem por objetivo estimular o nosso censo de responsabilidade. O sentido da vida é algo que ainda pode ser ressignificado de acordo com as vivências do indivíduo, embora não seja algo fácil de ser efetivado. Semelhantes conceitos confrontam-se com a finitude da vida e com o caráter irrevogável e finalístico, ou seja, daquilo que se faz de si próprio.
A questão do vazio parece-me comum a todas as pessoas. A correria diária, o consumismo na Era do ter, deixa o nervo à flor da pele podendo levar ao desenvolvimento de um vazio existencial resultante de uma absoluta necessidade insaciável de se auto suprir e, nessa busca sempre faltará alguma coisa. É possível verificar essa afirmativa na vida de pessoas que são ou foram economicamente muito ricas como Bill Gates, Steve Jobs e atualmente Jeff Bezos (dono do jornal americano The Washington Post).
Seja quem for o homem mais rico do mundo, não creio que seja tão rico como foi o Rei Salomão. Palácios suntuosos, vinhas, jardins, pomares, açudes, escravos comprados e escravos nascidos em casa, rebanhos de gado e ovelhas, prata, ouro, cantores e cantoras, mulheres à farta, grandeza e muita fama (Ec 2.4-11). Disse Salomão: “O que aconteceu antes vai acontecer outra vez, o que foi feito antes será feito novamente, não há nada de novo neste mundo” (Ec 1.9). [..] “tudo é vaidade”.
Por fim, vale destacar que, nem de longe, o texto se norteia numa abstenção da riqueza, contudo, trata-se de uma reflexão consciente de que embora a obtenção da riqueza lícita é salutar, ela não é garantia de uma felicidade plena e a inexistência de um vazio existencial. Esclarecido tal condição, observando grandes exemplos, o ser humano sempre precisará de elementos complementares que amenizam, de forma sistêmica, seu vazio enquanto ser que existe, mas, erradicá-lo ainda não se viu a concretização total de tamanho sonho.